sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Antes do exílio 2ª parte


“Conforme ele afirmou num depoimento posterior, na maior parte dos interrogatórios a que foi submetido, o se queria provar, além de sua ignorância absoluta, era o perigo que ele representava. Foi considerado um subversivo internacional, um traidor de Cristo e do povo brasileiro. Nega o senhor - perguntou-lhe um dos juízes- que seu método é semelhante ao de Stálin, Hitler, Perón e Mussolini? Nega o senhor que, com seu método, o que quer é tornar bolchevique o país?... Foi uma experiência que durou 70 dias, traumática o suficiente para ensinar-lhe algumas coisas. Na cadeia, ele teve ainda maior clareza a respeito da relação entre educação e política, confirmando sua tese de que a mudança social teria de partir das massas e não de indivíduos isolados. Sobre a prisão, afirmou ser possível aprender e educar nas condições mais diversas: se sua prática era de preso, ele tinha o que aprender com ela, ainda que não apreciasse. Depois dessa experiência na cadeia, Paulo Freire observou que, em tal clima de exacerbação e irracionalidade, seria muito, muito arriscado permanecer no país. Cansado se ficar sob vigilância rigorosa, cansado de ser chamado para responder perguntas, vendo que não podia fazer a única coisa que sabia fazer, e preferindo continuar vivo em lugar de se entregar a uma morte lenta, optou pelo exílio” ( Gadotti, Moacir; Convite à leitura de Paulo Freire, Ed Scipione , SP, pag 53,54)


O que me causa interesse é observar que desde o início de sua prática pedagógica, principalmente quando ele realizou seus primeiros trabalhos com a educação de jovens e adultos no SESI que Paulo Freire não distanciou os saberes dos educandos, a sua existência cultural e social estão intrincados com as conseqüências de uma prática política pedagógica que os excluiu de seu próprio fazer como sujeitos históricos.
Foi com a realização do II Congresso Nacional de Educação que o seu discurso e a sua prática abrem caminhos em conjunto com outros segmentos da sociedade brasileira para as reflexões que ocorriam no país com pretensões de mudanças sociais e políticas, Paulo Freire propunha que a educação de adultos das Zonas dos Mocambos existentes no Estado de Pernambuco deveria ser fundamentada na realidade do cotidiano que era vivenciada pelos alfabetizandos, e somente assim seria possível uma pedagogia progressista que não se limita-se a pura repetição mecânica de letras, palavras e frases desconexas com a realidade. Esta natureza política da educação é o centro da preocupação freireana que se gerava no seio do saber popular, da linguagem popular, da necessidade popular para a sua superação do mundo de submissão norteados para um mundo de possibilidades que estimulasse a decisão, a participação e a responsabilidade social e política e hoje em dia por que não também ambiental e tecnológica, já que estes dois "novos"campos do conhecimento humano devem saber dialogar com as problemáticas atuais.
O relatório apresentado no II Congresso de Educação de Adultos tornou-se um marco na compreensão pedagógica da época, de um lado uma educação neutra, alienante e do outro lado uma nova compreensão pedagógica que nascia no Brasil radicada no cotidiano político-existencial dos educandos.
O Nordeste brasileiro foi portanto o ambiente histórico-político em que as idéias de Paulo Freire foram desenvolvidas e que abrangem o período que inicia-se com a Revolução de 30 e que se encerra com o golpe militar de 1964.
No dia 16 de junho de 1964, dois policiais se identificaram à sua casa e pediram-lhe a Paulo Freire para que os acompanha-se.

continua...

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

A sua trajetória antes do exílio 1ª parte

Após o post sobre o artigo da educação e do Twitter, sem demoras, me veio a vontade de apresentar o primeiro pedagogo deste blog e vamos logo sem "perder um tempo" em resumir a bonita vida e obra deste educador brasileiro, nesta a nas próximas postagens irei apresentar a uns e a re-lembrar a outros um pouco do que este homem fez e deixou em aberto para a re-construção ou a destruição da educação deste país e do mundo, já que é preciso derrubar uns tijolos para se re-fazer a casas... sinapse... PinK Floyd!
Apresentarei a sua trajetória em dois momentos em postagens curtas que não cansem ao leitor ( Antes do exílio e após o seu exílio) em forma cronológica e com comentários pessoais sobre alguns assuntos que me provocam e me convidam a reflexão, por exemplo :
1) o que? e como aprender, se é que isso é possível;
2)estamos na era da reprodução? novas tecnologias x arcadismos pedagógicos;
3)criatividade ou alienação?
4)totalidade ou unidade...
Sugiro aqueles que já conhecem e estão familiarizados com este filósofo e educador brasileiro partirem diretamente e livremente se assim o desejarem, é claro, para as suas observações.
Boa leitura
Paulo Reglus Neves Freire, nasceu em Recife, PE, em 19 de setembro de 1921, filho de Joaquim Temístocles Freire e Edeltrudes Neves Freire.

*1940 à 1947 : completou os sete anos secundários, cursos fundamental e pré-jurídico, ingressando aos 22 anos de idade, na Faculdade de Direito do Recife, sendo a única opção que era oferecida dentro da área de ciências humanas. Casou-se com a professora primária Elza Maria Costa Oliveira. Tornou-se professor de língua portuguesa no Colégio Oswaldo Cruz, na mesma escola que o acolheu na sua adolescência.

*1947 a 1954 : Após a experiência de docência, foi ser diretor do setor de Educação e Cultura do SESI, órgão recém-criado pela Confederação Nacional da Indústria através de um acordo com o governo Vargas. Aonde teve contato com a educação de adultos / trabalhadores percebendo junto com eles que a nação precisava enfrentar a questão da educação e, mais especificamente, da alfabetização.

*1954 a 1957 : Ocupou o cargo de Superintendente do setor de Educação e Cultura do SESI. Foi nomeado pelo prefeito Pelópidas Silveira membro do Conselho Consultivo de Educação do Recife. E também foi designado para o cargo de Diretor da Divisão de Cultura e Recreação do Departamento de Documentação e Cultura da Prefeitura Municipal do Recife. Criação do MCP- Movimento de Cultura Popular do Recife.

*1957 a 1964 : Foi Relator da Comissão Regional de Pernambuco e autor do relatório intitulado “A Educação de Adultos e as Populações Marginais: O Problema dos Mocambos”, apresentado no II Congresso Nacional de Educação de Adultos.
As suas primeiras experiências como professor de nível superior ocorreram quando esteve lecionando Filosofia da Educação na Escola de Serviço Social a qual, posteriormente, foi incorporada a então Universidade do Recife.
Prestou concurso e obteve o título de Doutor em Filosofia e História da Educação, defendendo a tese “Educação e atualidade brasileira”. Essa titularidade assegurou-lhe, a nomeação de professor efetivo de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade do Recife e também foi-lhe conferido o certificado de Livre-Docente da cadeira de História e Filosofia da Educação da Escola de Belas Artes.
Participou da elaboração do Primeiro Regimento do Conselho Estadual de Educação de Pernambuco. Após as primeiras experiências do método de alfabetização em Angicos (RN) onde 300 trabalhadores rurais foram alfabetizados em 45 dias. Foi convidado pelo presidente João Goulart e pelo ministro da Educação Paulo de Tarso para organizar e representar a alfabetização de adultos em âmbito nacional, através do Plano Nacional de Alfabetização, pelo decreto nº 53.465, de 21 de janeiro de 1964.
“o que eu propus a Paulo Freire, como ministro da Educação, foi realmente uma ampliação, em nível nacional, da experiência de Angicos. O objetivo era a multiplicação, por todo o país, dos chamados circulos de cultura, a partir de uma experiência piloto que deveria abranger toda a população analfabeta de Brasília” ( Tarso Santos de, Paulo; In: Gadotti, Moacir; Paulo Freire: uma bibliografia, SP , 1996, pag 176)
continua...

Convite a reflexão do artigo escrito por Dilvo Ristoff sobre os atuais paradigmas da educação brasileira

Este artigo trabalha algumas questões interessantes e atuais no campo da educação brasileira , achei oportuno, e logo postarei alguns comentários.
26-01-2010 10:39:22 - Artigo: Educação pós-Twitter
Dilvo Ristoff (*)

"O Twitter é uma rudimentar rede de conexão social", disse Biz Stone, em novembro último, em Doha. Há, segundo ele, muito a fazer para tirar proveito dos 4,4 bilhões de telefones celulares e de 1 bilhão de contas de internet espalhados pelo planeta.

O criador do Twitter esteve com Sugata Mitra, o autor de "A hole in the wall" – que instalou computadores nas ruas de cidades para onde bons professores não querem ir. Queria ver o que aconteceria com as crianças! Para a sua surpresa, em três meses, sozinhas, elas aprenderam a usar o computador e, como todos nós, a exigir um processador mais veloz.

Sem qualquer ajuda, as crianças aprenderam 30% dos conteúdos de genética disponibilizados e, com o auxílio de um tutor, superaram os estudantes das melhores escolas da Índia.

Mitra argumenta que hoje importa menos quem você conhece e mais se você está ou não linkado. Estamos em uma nova era: o usuário linkado questiona, e não raro com razão, as recomendações do médico, a originalidade do artista, o conhecimento do professor.

O acesso fácil à informação gerou a era do espanto, da instabilidade de doutores, mestres e pseudoespecialistas! Não sabe? Não pergunte ao professor! Pergunte à inteligência democrática: pergunte ao google! Para que esta inteligência democrática possa ganhar escala e servir à humanidade, a Escola precisa tornar a inclusão digital a sua palavra de ordem. Para isso, terá que conviver com a aprendizagem auto-organizada e lidar com tecnologias que tolerem múltiplas trajetórias pedagógicas.

Ou seja, a educação terá que ter compromisso inarredável com a inovação! O que Biz Stone e Mitra propõem é um futuro que não mais replicará o presente e que trará à tona milhões de talentos que serão colocados a serviço da vida, com novas oportunidades para todos! Estará o Brasil em condições de preparar os jovens para as demandas de adaptabilidade que se apresentam?

A julgar pela resistência que as novas tecnologias encontram em nossas universidades, temo que continuaremos a educar para o passado, imaginando que ele funcionará no futuro. Não funcionará! A menos que aceitemos que se frustrem as nossas esperanças de construir um país avançado nas artes e nas ciências, é urgente que professores sejam expostos a um agressivo choque de novas tecnologias, antes que caiam em descrédito pela sua incapacidade de educar para os novos tempos.

Mais do que nunca, dependemos de políticas comprometidas com a interconectividade e com o futuro.

(*) Reitor da Universidade Federal da Fronteira Sul. Artigo publicado em "O Globo", 16/01

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Há beleza em Platão?


Quando pensamos em nos aproximar do significado da arte em Platão, ou simplesmente, como ele nos responde O que é a arte, ou ainda melhor ,como eu compreendo a resposta que ele nos dá, precisamos ter em mente que a sua filosofia gira na órbita do mundo das idéias e do mundo das formas.

O fato é que apesar dele receber inúmeras críticas, sempre foi fonte de infinitas reflexões e produções artísticas e intelectuais de filósofos, poetas, músicos etc...
Em outras palavras, Platão é mais um daqueles que trancendem a vida e a morte... ele é eterno, ou melhor as suas idéias são eternas.
De um lado as essências perfeitas e de outro as formas imperfeitas... eu, você, a natureza,os animais, vivemos no mundo das formas, somos uma cópia, uma reprodução, uma sombra da realidade ideal que a alma habitou antes de materializar-se e que procura o caminho de volta...

O nosso dever de casa, como seres humanos racionais é alcançar a idéia do Bem e contemplar as coisas como elas realmente são. Existe algo para além dos nossos sentidos? Platão nos responde que sim... é a ideia do Bem.
A Filosofia platônica é idealista e dualista, pois busca alcançar um ideal, uma perfeição, do homem e da sociedade em que ele vive através da reflexão filosófica e da intuição intelectual.
A produção artística mais do que uma cópia da cópia, ou seja, já que existe o mundo das formas como sendo uma cópia imperfeita do mundo das idéias, os girassóis de Van Gogh por exemplo seriam uma reprodução... não há originalidade, não há criação, mas a arte é um meio para alcançar a beleza, a perfeição... a idéia do Bem em si mesmo.
Para Platão ,talvez o artista mais do que um copista deve se desenvolver para atingir o ideal do sumo Bem e ao contemplarmos as suas obras estariamos participando, vivenciando um estado da alma além do mundo material.

Mas... o que é a beleza... é o perfeito, o harmônico?